sexta-feira, 15 de março de 2024

AIRBUS MANIFESTA QUE EUROPA DEVERIA UNIFICAR SEUS PROGRAMAS DE AERONAVES DE COMBATE


Ilustração do programa GCAP em desenvolvimento pela Grã-Bretanha, Itália e Japão

Por Carlos Junior
Para uma pessoa que conhece a história da aviação militar sabe que a Europa foi um berço de grandes conquistas da tecnologia aeroespacial. Muitos aviões de combate inovadores e de bom desempenho foram projetados e construídos no velho continente.
Depois que a OTAN foi criada, sob a liderança dos Estados Unidos, a promoção do medo de uma União Soviética ameaçadora que poderia vir a invadir a Europa Ocidental durante a guerra fria na segunda metade do século passado, e agora, com o medo de uma Rússia governada por um lunático que tem, claramente ambições expansionistas, tem facilitado com que muitos países europeus, no decorre de todas essas décadas que elenquei acima, se tornassem clientes da indústria militar norte americana, levando a uma degradação da capacidade industrial europeia, que não estava mais recebendo investimentos de seus governos para projetar aeronaves próprias. Poucos países se mantiveram firmes investindo em suas industrias, sendo a Grã-Bretanha, França e Suécia os poucos países que tiveram cuidado de não abandonar sua independência nesse campo, embora ainda adquiriram alguma tecnologia dos Estados Unidos.
Hoje,  Guillaume Faury, CEO da Airbus defende que os dois únicos grandes programas de desenvolvimento de aeronaves de combate em solo europeu, o GCAP (Programa Global de Combate Aéreo) na sigla em inglês, e que envolve a Grã-Bretanha, Itália e Japão (este ultimo entrou a pouco tempo) e o programa FCAS ou SCAF, como eu prefiro me referir, (Sistema Aéreo de Combate Futuro), que está sendo desenvolvido pela França, Alemanha e Espanha, se unissem em um só programa, para poder proteger a indústria aeroespacial europeia da agressiva entrada de novos caças de 5º geração F-35 de fabricação norte americanas nos países europeus. Com vendas de caças F-35 que superam a soma de vendas de caças Typhoon e Rafales, a manutenção de dois programas de caças vai levar a uma muito provável perda de viabilidade econômica para os dois programas que terão que disputar por encomendas menores dos poucos países que não compraram F-35.
Desenho do programa SCAF da França, Alemanha e Espanha.
Embora haja particularidades nos requisitos de cada nação, a verdade é que, de uma forma bastante geral, ambos os projetos apresentam uma solução com desempenho muito parecido, para não falar idêntico. Observem que tanto o Rafale, quanto o Typhoon, aeronaves irmãos que foram desenvolvidas ao mesmo tempo, trouxeram aeronaves que poderiam, tranquilamente, serem substituídas um pelo outro, pois seus desempenho são muito similares. Esse erro está se repetindo com os programas separados liderados pela França e pela Grã-Bretanha.

                

segunda-feira, 11 de março de 2024

ÍNDICE DE NAVIOS DE GUERRA - WARFARE BLOG



CLASSE KOLKATA - Consolidando a maturidade da indústria naval indiana.


Destroier Kolkata
FICHA TÉCNICA
Tipo: Destroier.
Tripulação: 300 tripulantes.
Data do comissionamento: Agosto de 2014.
Deslocamento: 7500 toneladas.
Comprimento: 163 m.
Calado:  6,5 mts.
Boca:  17,4 m.
Propulsão: Sistema COGAG (Combinação de turbinas a gás e gás) Zorya M36E com quatro turbinas a gás reversíveis DT-59 e duas caixas de câmbio RG-54 que juntas produzem 64000 hp que movem dois eixos com hélices.
Velocidade máxima: 30 nós (56 km/h)
Alcance: 15000 Km.
Sensores:  Radar multifuncional IAI  EL/M-2248 MF-STAR AESA com 250 km de alcance (busca aérea); Radar de busca aérea Thales  LW-08 banda D com 230 km de alcance (aeronaves com RCS de 2m² - Caças pequenos); Radar de busca de superfície Garpun Bal (3TS-25E) com 90 km de alcance; Sonar de casco BEL  HUMSA-NG com 14,8 km de alcance; Sonar rebocado de busca ativa BEL Nagin
Armamento: 4 lançadores verticais de 8 células para 32 mísseis antiaéreos de médio alcance Barak 8; 2 lançadores de 8 células para mísseis antinavio BrahMos; 4 tubos para torpedos pesados de 533 mm; 2 lançadores de foguetes anti-submarino RBU-6000; 1 canhão multifunção OTO Melara 76 mm; 4 canhões de defesa de ponto (CIWS) AK-630
Aeronaves: 2 helicópteros Sikorsky SH-3 Sea King ou HAL Dhruv.

DESCRIÇÃO
Por Carlos Junior
A Índia é uma das grandes potencias militares do mundo. Sua situação conflitosa com dois de seus vizinhos (China e Paquistão) obriga as autoridades politicas e militares indianas levarem o assunto defesa muito a sério. Por isso o país tem em seu arsenal armas que vem de muitas fontes, sendo a Rússia o principal parceiro militar indiano, situação esta que está em um momento de mudança com uma aproximação importante dos indianos com o ocidente, notadamente os Estados Unidos.
Com um litoral gigantesco, com mais de 7500 km e banhado pelo Oceano Índico, a marinha indiana é particularmente bem equipada.
Com 163 m de comprimento, a classe Kolkata é quase 10 metros maior que os destroieres norte americana da classe Arleigh Burke.

Com uma relativa grande frota de navios de guerra nos quais 12 deles são destroieres divididos em 4 classes, sendo que as mais importantes e modernas são as classe Kolkata e sua derivada, classe Visakhapatnam, com 3 navios cada classe, a marinha indiana é mais bem equipada que muitas marinhas europeias.
A partir de agora vou apresentar a classe de destroier Kolkata que representou um avanço muito importante na capacidade de combate da marinha indiana, assim como na capacidade industrial do país em projetar navios de guerra modernos para operar em aguas azuis, um importante objetivo da marinha indiana uma vez que hoje ela conta com dois porta aviões para projeção de força além mar e que precisa de uma escolta robusta provida por esses navios de guerra.
O governo indiano aprovou a construção de três destroieres da classe Kolkata em maio de 2000. O primeiro aço foi cortado para o navio líder da classe, INS Kolkata , em março de 2003. Sua montagem foi iniciada em setembro de 2003. Essa classe foi o primeiro destroier indiano projetado com algumas soluções para redução de sua assinatura de radar. Observe, no entanto que este navio não é, ainda, uma embarcação que se possa classificar como furtiva, como são alguns navios europeus modernos.
A propulsão dos destroieres desta classe é composta por um sistema COGAG (Combinação de turbinas a gás e gás) Zorya M36E com quatro turbinas a gás reversíveis DT-59 e duas caixas de câmbio RG-54 que juntas produzem 64000 hp movendo dois eixos com hélices. Assim, com um deslocamento de mais de 7000 toneladas, o navio consegue navegar a velocidade máxima de 30 nós (56 km/h), tendo uma autonomia máxima de 15000 km. Nada mal! Na verdade as dimensões relativamente grandes deste navio (maior que os Arleigh Burke da Marinha dos Estados Unidos), seu relativo elevado deslocamento, poderiam induzir à um observador a acreditar que o navio não tivesse um desempenho tão bom. 
Os navios da classe Kolkata possuem um grande alcance podendo navegar a até 15000 km de distancia, o que lhe assegura autonomia suficiente para operar em qualquer parte do planeta.

A suíte de sensores dos navios da classe Kolkata é bastante abrangente e tem como principal elemento o radar de origem israelense IAI EL/M-2248 MF-STAR AESA com 250 km de alcance para busca aérea. Esse radar permite detectar alvos com baixa reflexão de radar (RCS) e ainda superar muitos tipos de técnicas de interferência que um alvo possa tentar empregar para evitar ser rastreado. Para busca aérea dedicada, é empregado o radar francês Thales LW-8, um modelo que já está em operação nos navios de guerra de vários países há muitos anos e que é confiável e de fácil operação, podendo receber a instalação de um sistema de identificação automática amigo/ inimigo (IFF). Este radar tem capacidade de rastrear um alvo aéreo do tamanho de um caça (5m² de RCS) à uma distancia de até 230 km.
Para busca de superfície e designação de alvos para mísseis, é empregado o radar russo Garpun Bal (3TS-25E) com 90 km de alcance.
Já para a guerra antissubmarino, a suíte de sensores é composta pelo sonar de casco BEL  HUMSA-NG que opera de forma ativa e passiva capaz de detectar, localizar, classificar e rastrear alvos submarinos a distancias de 14,8 km de alcance. Por ultimo, um sistema de sonar rebocado BEL Nagin que opera exclusivamente no modo ativo está instalado no navio.
Os radares IAI EL/M-2248 MF-STAR (no topo) e o radar Thales LW-08, logo abaixo, compõe os principais sensores de detecção dos navios da classe Kolkata.

A capacidade de combate da classe Kolkata  é bastante ampla, sendo capaz de atacar todos os tipos de alvos que se pode encontrar em um teatro de operações complexo de alta intensidade. Comecemos pelos dois lançadores verticais de mísseis antinavio BrahMos, com 16 células de lançamento. O míssil BrahMos é fruto do trabalho conjunto entre empresas indianas e russas que produziram um poderoso míssil supersônico que voa rente á agua (regime de voo sea skimming) à uma velocidade de mach 2,8 (3480 km/h) transportando uma ogiva de 300 kg que pode ser, inclusive, do tipo semi penetradora de blindagem. Este míssil é guiado por sistema INS até as proximidades do alvo, quando passa a empregar um radar ativo na fase final do engajamento. Navios do tamanho de um destroier não se manteriam flutuando se forem atingidos no casco na altura da linha d'água pelo BrahMos e, muito provavelmente, nem um cruzador sobreviria nessas mesmas condições. Há versões do BrahMos que podem sem empregadas contra alvos em terra também. 
Para defesa antiaérea, estão instalados 4 lançadores verticais de 8 células para mísseis Barak 8 totalizando 32 mísseis para pronto emprego. Esse sistema de origem de um projeto indo/ israelense, é um míssil de médio alcance podendo, em sua versão básica (a empregada pelo Kolkata) atingir um alvo à distancia de até 70 km, lhe garantindo alguma capacidade de defesa aérea de área. O Barak 8 é guiado por radar ativo, o que lhe garante autonomia total depois de lançado.
Um míssil antinavio BrahMos no momento de seu lançamento pelo destroier Kolkata.

O armamento de tubo é composto por um canhão OTO Melara 76mm Super Rapid montado em uma torre furtiva (para reduzir a seção transversal do radar) capaz de disparar 120 tiros por minutos e com um alcance que varia de 16 km para munição convencional e 40 km para munição VULCANO que são granadas guiadas por GPS contra alvos estacionários e a laser contra alvos moveis. Para defesa antiaérea de ponto, são empregados 4 canhões AK-630 com 6 canos rotativos em calibre 30 mm que disparam 5000 tiros por minuto e são eficazes contra alvos aéreo a à uma distancia de 4000 metros e 5000 metros contra alvos de superfície.
O canhão OTO Melara 76mm Super Rapid é o principal armamento de tubo do Kolkata, e já se tornou um dos principais armamentos de tubo dos mais modernos navios de guerra atualmente. Muitos modernos projetos de navios de guerra em muitas marinhas do mundo todo tem optado por esse canhão.

Para guerra anti-submarino, foram instalados dois tubos duplos para torpedos pesados MK46, de fabricação norte americana. O torpedo MK46 tem um alto desempenho e pode destruir um submarino inimigo a 11 km, e em profundidade máxima de 365 m, sendo guiado por um sistema de sonar ativo/ passivo. Também, para guerra anti-submarino, há 2 lançadores de foguetes anti-submarino RBU-6000 que tem alcance de cerca de 5 km e que funcionam mergulhando na agua e detonando uma carga explosiva de profundidade. Este é um sistema de fabricação russa.
O Kolkata opera dois helicópteros médios HAL Dhruv, de fabricação local, que são usados para missões de resgate, guerra anti-submarino.
O helicóptero HAL Dhruv, projetado e fabricado na Índia, e representa a ala aérea dos navios da classe Kolkata. Dois exemplares são operados por cada navio desta classe.

Como se pode perceber, os destroieres da classe Kolkata representam uma solução de forte compromisso com capacidade indiana para operar em aguas azuis e com uma capacidade de combate bastante relevante, incluindo podendo operar como parte de missões multinacionais em qualquer ponto do planeta. Uma versão bastante aprimorada do Kolkata foi projetada e construída dando origem a classe Visakhapatnam, que recebeu modificações bastante extensas em seu desenho com o objetivo de reduzir ainda mais sua assinatura de radar. Em outra oportunidade vou trazer uma matéria aqui no WARFARE Blog descrevendo esta versão também.

O destroier Kolkata escoltando o porta aviões Vikrant, um dos dois porta aviões indianos em serviço atualmente.





                  

segunda-feira, 4 de março de 2024

Estaleiro Ares Revela Novo Projeto De Corveta Na Exposição DIMDEX 2024


ARES 76

O construtor naval turco Ares revelou seu mais recente projeto de corveta, a ARES 76, na exposição DIMDEX 2024 que acontece em Doha, Catar, de 4 a 6 de março de 2024.

Comunicado de imprensa do Estaleiro Ares

Tradução Carlos Junior

Para os países que procuram salvaguardar os seus direitos e interesses internacionais fora das responsabilidades das entidades locais de aplicação da lei dentro das suas zonas económicas exclusivas ou nas águas internacionais, a nova corveta ARES 76  provou ser uma opção de última geração. As marinhas tendem a identificar plataformas de navios de guerra polivalentes, de comprimento relativamente mais curto e de médio deslocamento, devido à evolução dos conceitos de combate. Com seus muitos recursos, a corveta ARES 76 pode atender de forma fácil a todos esses requisitos.

Com seus atributos básicos, a ARES 76 possui boa capacidade de combate em todos os três tipos principais de guerra; no entanto, sua diversidade de carga útil o diferencia. Para guiar a carga até o alvo, sensores de alta tecnologia são acoplados a um sistema compacto de gerenciamento de combate (CMS). O conjunto EW (Guerra Eletrônica) da ASELSAN pode identificar e diagnosticar ameaças potenciais e direcionar informações que podem ser detectadas eletronicamente com o radar 3D/4D, e o sistema ASELSAN EOS (Electro-Optic Suit) pode identificar e diagnosticar visualmente as mesmas informações. Esses dados valiosos são compatíveis com os sensores TDL Link-16-22, permitindo detecção precisa de alvos e geração de imagens táticas. Com o UAV VTOL leve e totalmente equipado do navio, a probabilidade de detecção e identificação é maximizada.

A ARES 76  tem um canhão naval desenvolvido pela MKE A.Ş./Turkiye de 76 mm para apoio de fogo quatro  unidades (opcionalmente oito) dos comprovados mísseis antinavio Atmaca da ROKETSAN (alcance de 250 km) e duas estações de armas remotas de 12,7 mm (RWS) atendem aos requisitos da Guerra Anti-Superfície (ASuW).
Uma das principais características que diferencia a ARES 76 de outras embarcações de tamanho semelhante é a sua versatilidade de carga útil para o conceito de Guerra Anti-Submarino (ASW). Quatro torpedos leves Orka e um sistema de foguete ASW de seis lançadores da ROKETSAN podem eliminar eameaças submarinas identificadas pelas soluções de sonar YAKAMOS Hull Mounted/RT da METEKSAN. Outros sensores de suporte e sistemas eletrônicos relevantes ​​são os sistemas de lançamento XBT e o Telefone Subaquático.

Graças às suas extensas capacidades, a nova corveta do Estaleiro Ares pode manter o mais alto nível de blindagem para proteger a si mesma ou à Unidade de Alto Valor (HVU) e seu grupo de trabalho ao executar a função de missão de Guerra Antiaérea. Após uma avaliação confiável dos dados obtidos do radar 3D/4D, os mísseis de ataque podem ser neutralizados passivamente usando sistemas  de isca Chaff  desenvolvidos pela MKE ou agressivamente-ativamente usando sistemas de misseis de defensa de ponto PDMS ASELSAN GÖKSUR. A ARES 76 pode implantar e recuperar vários tipos de ULAQ USVs (Veículos de Superfície Não Tripulados), dependendo do conceito de operações do usuário final, como ISR (Reconhecimento de Vigilância de Inteligência), ASW (Guerra Anti-Submarino) ou KAMA (Kamikaze).

As corvetas exigem uma arquitetura de plataforma robusta e considerada para acomodar todos esses sistemas de armas e sensores avançados. Este requisito exige o desenvolvimento de um design de ponta, características excepcionais de navegação e capacidades de plataforma que serão minimamente afetadas pelo mar agitado e proporcionarão alojamentos e locais de trabalho de primeira classe para a tripulação. Para garantir o melhor benefício com o mínimo de necessidade de pessoal, a superioridade das capacidades electrónicas da plataforma são cruciais. São necessários menos de 50 tripulantes qualificados para operar a Corveta ARES 76, que representa menos da metade dos tripulantes em navios de guerra de porte semelhante.

quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024

FORÇAS ESPECIAIS ALEMÃS SERÃO OS PRIMEIROS USUÁRIOS MILITARES DO NOVO FUZIL HK-437


HK-437 calibre 300 Blackout

Os militares alemães estão comprando uma versão do rifle HK433 com câmara .300 Blackout para suas forças de operações especiais.

As forças armadas alemãs serão os primeiros operadores militares (forças de segurança já utilizam) de uma versão do rifle de assalto HK-433 da Heckler & Koch. Diz-se que a comunidade das forças de operações especiais da Alemanha está em processo de aquisição de uma versão especializada de cano curto com supressão de som do HK-433, conhecida como HK-437, que está configurada para calçar munição calibre 300 Blackout. Criado nos Estados Unidos, o 300 Blackout foi projetado especificamente para oferecer uma combinação ideal de precisão e potência, mesmo quando disparado de armas exatamente com esse tipo de configuração com cano mais curto.
O site alemão de notícias de defesa e segurança Hartpunkt, relatou pela primeira vez a aquisição planejada pelos militares do país dos HK- 437, que, segundo eles, receberão a designação G-39. Citando “círculos bem informados”, o veículo disse que o contrato entre as forças armadas alemãs, ou Bundeswehr , e a Heckler & Koch para essas armas foi assinado no início de fevereiro de 2024. Esse acordo é supostamente para um lote inicial de 176 armas, juntamente com supressores e outros itens auxiliares. Espera-se que a Bundeswehr compre 988 HK437s.
O relatório da Hartpunkt diz que os HK-437 serão substitutos para as variantes restantes da icônica série Heckler & Koch 9x19mm MP-5SD de submetralhadoras com supressor de ruído integral ainda no serviço de operações especiais alemão.
A Heckler & Koch apresentou publicamente o HK-433 em 2017 . O serviço policial do estado alemão de Schleswig-Holstein se tornou o primeiro grande cliente conhecido de qualquer tipo a comprar variantes do HK-433 quando anunciou que estava comprando HK-437 no .300 Blackout em 2022.
Fuzil HK-433, modelo base da família.

sábado, 10 de fevereiro de 2024

A vantagem de adaptação da Rússia


Por Mick Ryan, Foreign Affairs, 5 de fevereiro de 2024.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 10 de fevereiro de 2024.

No início da guerra, Moscou lutou para trocar de marcha, mas agora está aprendendo mais que Kiev.

Ao longo da guerra na Ucrânia, Kiev e Moscou travaram uma batalha de adaptação, tentando aprender e melhorar a sua eficácia militar. Nas fases iniciais da invasão, a Ucrânia levou vantagem. Fortalecida por um rápido influxo de armas ocidentais, motivada pela ameaça existencial representada pela agressão da Rússia, e bem preparada para o ataque, Kiev foi capaz de desenvolver novas formas de lutar num prazo notavelmente curto. A Rússia, pelo contrário, atrapalhou-se: um urso grande, arrogante e desajeitado, excessivamente confiante numa vitória rápida. O choque institucional causado pelo insucesso da Rússia, por sua vez, retardou a sua capacidade de aprender e de se adaptar.

Mas depois de dois anos de guerra, a batalha da adaptação mudou. A disparidade de qualidade entre a Ucrânia e a Rússia foi eliminada. A Ucrânia ainda possui uma cultura militar inovadora e ascendente, o que lhe permite introduzir rapidamente novas tecnologias e táticas no campo de batalha. Mas pode ter dificuldades para garantir que essas lições sejam sistematizadas e espalhadas por todas as forças armadas. A Rússia, por outro lado, é mais lenta a aprender de baixo para cima devido à relutância em reportar fracassos e a uma filosofia de comando mais centralizada. No entanto, quando a Rússia finalmente aprende alguma coisa, é capaz de sistematizá-la através das forças armadas e da sua grande indústria de defesa.

Estas diferenças refletem-se nas formas como os dois estados inovam. A Ucrânia é melhor na adaptação tática: aprendendo e melhorando no campo de batalha. A Rússia é superior na adaptação estratégica, ou na aprendizagem e adaptação que afeta a formulação de políticas nacionais e militares, tais como a forma como os Estados utilizam os seus recursos. Ambas as formas de adaptação são importantes. Mas é este último tipo o mais crucial para vencer guerras.

Quanto mais esta guerra durar, melhor a Rússia conseguirá aprender, adaptar-se e construir uma força de combate moderna e mais eficaz. Lenta mas seguramente, Moscou absorverá novas ideias do campo de batalha e reorganizará as suas táticas em conformidade. A sua adaptação estratégica já ajudou a defender-se da contra-ofensiva da Ucrânia e, nos últimos meses, ajudou as tropas russas a tomar mais território de Kiev. Em última análise, se a vantagem da Rússia na adaptação estratégica persistir sem uma resposta ocidental adequada, o pior que pode acontecer nesta guerra não é o impasse. É uma derrota ucraniana.

O jogo da paciência

Soldados russos voluntários em um aeroporto em Grozny, Rússia, janeiro de 2024.
(Chingis Kondarov/Reuters)

Depois de dificuldades durante as suas primeiras operações militares na Ucrânia, a Rússia adaptou a sua estrutura de comando e controle. Em abril de 2022, o país nomeou um único comandante para supervisionar a sua invasão em grande escala, descartando o sistema disfuncional e fraturado através do qual Moscou conduziu a guerra até aquele ponto. O resultado foi um esforço mais unificado, que transferiu a invasão russa de múltiplas campanhas separadas e descoordenadas no norte, leste e sul do país para uma abordagem mais sincronizada – sendo o esforço principal claramente as operações terrestres no leste da Ucrânia. Isto levou aos avanços russos e à captura de cidades como Severodonetsk, em meados de 2022.

A Rússia também mudou a forma como conduzia o combate aproximado. No início da guerra, a Rússia empregou armas combinadas, unidades terrestres do tamanho de batalhões que muitas vezes não eram suficientemente fortes e que demonstravam uma capacidade limitada para integrar operações aéreas e terrestres e realizar operações terrestres de armas combinadas. Mas nos últimos 12 meses, os russos afastaram-se desses batalhões. Estão agora integrando forças de elite e forças convencionais – e a reforçar essa combinação com o que muitos ucranianos chamam de “tempestade de carne”: vagas de forças mal treinadas e descartáveis, que podem sobrecarregar e esgotar os soldados ucranianos antes da chegada de tropas russas mais talentosas.

Parte desta inovação táctica foi impulsionada pela necessidade militar, incluindo a falta de tempo que a Rússia teve para treinar as tropas mobilizadas para níveis elevados de proficiência. Mas parte dela foi informada por diretivas estratégicas de cima para baixo. Os líderes da companhia paramilitar Wagner ajudaram a promover a abordagem das “táticas de carne”, utilizando condenados que se inscreveram na milícia como caçadores de balas descartáveis durante a campanha bem-sucedida para tomar Bakhmut. Depois de ver o sucesso do Grupo Wagner com esta estratégia grotesca, as forças de Moscou adoptaram abordagens semelhantes para outras batalhas. As táticas da infantaria russa passaram da tentativa de empregar grupos de batalhões uniformes como unidades de ação de armas combinadas para a criação de uma divisão estratificada, formando tropas de assalto, especializadas e de “carne” descartáveis.

As forças russas também se adaptaram na defesa. Depois de fortificar apenas ligeiramente as suas posições no início da guerra – e assim abrir-se às ofensivas ucranianas – Moscou construiu linhas defensivas profundas no sul durante o final de 2022 e início de 2023. Juntamente com as melhorias russas na redução do tempo entre a detecção de alvos e a execução de ataques no campo de batalha, os ucranianos enfrentaram um adversário no segundo semestre de 2023 que foi muito diferente daquele que enfrentaram em 2022. Para superar este inimigo evoluído, a Ucrânia foi forçada a adaptar as suas táticas, tecnologia e operações, em parte enviando algumas tropas para a Polônia e outros países europeus para treino adicional de armas combinadas antes do início da contra-ofensiva. Mas os esforços de Kiev ainda eram insuficientes para a tarefa de retomar uma parte maior do sul.

A disparidade de qualidade entre a Ucrânia e a Rússia foi eliminada.

Os militares russos também melhoraram a proteção dos seus veículos. Nos primeiros dias da guerra, a Ucrânia utilizou drones e mísseis de precisão para destruir com sucesso muitos dos tanques e caminhões de Moscou, levando a múltiplas derrotas embaraçosas da Rússia. Mas, em resposta, as tropas do país começaram a criar blindagem improvisada. Depois que grandes quantidades de veículos logísticos russos foram atacados durante o avanço sobre Kiev, as tropas começaram a adicionar blindagem improvisada a esses caminhões. Essa blindagem improvisada acabou ganhando maior sofisticação com o que passou a ser chamada de “gaiolas de proteção” – blindagem de ripas ou blindagem de gaiola. Essa blindagem apareceu pela primeira vez em tanques alemães na Segunda Guerra Mundial. Mas também tem sido utilizada em conflitos modernos, incluindo pelas forças da coligação destacadas na guerra do Iraque em 2003 e agora em tanques russos e artilharia autopropulsada. Estas jaulas ajudaram a esmagar os fusíveis das armas antitanque ucranianas antes de atingirem a blindagem principal de um veículo ou forçaram as armas antitanque a detonar antes que pudessem penetrar no veículo. Juntas, as jaulas proporcionaram outra camada de proteção física aos tanques e caminhões da Rússia e parecem ter dado às suas tripulações mais confiança para operar em locais onde existe um elevado risco de ataques de drones ou de munições rondantes.

Exemplos de gaiolas de proteção.

Esta abordagem defensiva pode ter começado como uma inovação tática. Mas, eventualmente, a adoção de gaiolas foi sistematizada. O Exército Russo fez com que as suas unidades, em massa, usassem gaiolas como uma abordagem sistêmica para derrotar munições rondantes, mísseis de ataque de topo (como o Javelin) e drones. Em 2023, os comandantes russos emitiram até instruções formais sobre como construir e montar gaiolas para caminhões, artilharia e veículos blindados.

Moscou agora oferece essas gaiolas nas versões de exportação de seus veículos blindados. Enquanto isso, Moscou melhorou significativamente no emprego de drones – revertendo uma dinâmica anterior. No início da guerra, a Ucrânia ajudou a criar novas formas de utilizar drones controlados remotamente, semi-autônimos e autónomos para fazer tudo, desde a realização de reconhecimento até ao lançamento de bombas. O autoproclamado exército de drones do país, uma colaboração entre o governo, a indústria e o financiamento colaborativo de cidadãos, deu a Kiev uma vantagem inicial especialmente impressionante dos drones. Mas embora a Rússia tenha sido mais lenta na adopção de drones para uma vasta gama de fins, ultrapassou agora a Ucrânia na quantidade de drones e de munições rondantes e na sua capacidade dos utilizar. Moscou o fez mobilizando a sua indústria de defesa local e adquirindo tecnologias críticas no exterior, apesar das sanções ocidentais. Agora, supera a Ucrânia no que diz respeito a drones e munições rondantes. Esta lacuna provavelmente continuará a aumentar.

A guerra moderna é quase impossível sem a utilização de um grande número de veículos aéreos não-tripulados e, ao mesmo tempo, combater ativamente os drones inimigos. A utilização dos VANT pela Rússia – em conjunto com as suas linhas defensivas, grandes quantidades de artilharia, helicópteros de ataque, munições rondantes e sistemas de reconhecimento e vigilância mais responsivos – foi uma das principais razões para a fracassada contra-ofensiva da Ucrânia em 2023. E à medida que a Rússia aprender mais e continuar a aumentar a sua produção de drones, ganhará mais vantagens.

Acelerando

Os drones não são a única arma com a qual a Rússia inverteu o roteiro. A Ucrânia foi uma das primeiras a adotar armas de precisão, ou armas que utilizam GPS ou outros sistemas de orientação para atingir alvos com mais precisão do que os sistemas mais antigos. Kiev tinha que ser; dada a disparidade em artilharia e munições no início da guerra, a Ucrânia não podia dar-se ao luxo de desperdiçar foguetes e granadas. Mas desde então Moscou aprendeu e adaptou-se para reduzir o efeito das armas de precisão. Fê-lo dispersando melhor as suas forças de combate, artilharia e logística. Também complicou a segmentação ucraniana ao utilizar meios de comunicação eletrônica mais seguros, incluindo redes encriptadas e sistemas de comunicações táticas mais antigos com fios.

Tradicionalmente uma força dos russos, a guerra eletrônica parecia desempenhar um papel menor nos primeiros dias da invasão. Mas voltou com força total. Os militares russos têm colaborado com a sua indústria de defesa estratégica para desenvolver e empregar uma variedade de novos e evoluídos sistemas de guerra eletrônica baseados em veículos e pessoal. Estas obstruem as comunicações ucranianas para quebrar a coesão das unidades e retardar a capacidade do país de lançar ataques. A guerra eletrônica também corta a ligação entre os drones e os seus operadores, ajuda a Rússia a encontrar estações de operadores de drones, torna difícil para a Ucrânia identificar a localização dos quartéis-generais da Rússia e, mais importante, bloqueia ou degrada a eficácia das armas de precisão ucranianas (incluindo Sistemas de Foguetes de Artilharia de Alta Mobilidade, ou HIMARS). Embora a Ucrânia e os seus parceiros tenham trabalhado arduamente para acompanhar, ainda estão atrás das capacidades de guerra eletrônica da Rússia, um ponto defendido pelo Comandante-em-Chefe ucraniano Valeriy Zaluzhnyi no final de 2023.

Talvez a área mais reveladora em que a Rússia se adaptou e gerou uma vantagem estratégica seja no seu complexo industrial de defesa. A mobilização parcial do país em setembro de 2022 e outras iniciativas governamentais aumentaram dramaticamente a produção militar. Moscou ganhou mais armas através das contribuições da Coreia do Norte e reforçou a sua sofisticada fabricação de armas, aumentando o comércio com a China – o que permitiu à Rússia adquirir tecnologias de dupla utilização que já não pode comprar do Ocidente. Como resultado, a Rússia tem agora muito mais armas e munições do que a Ucrânia.

A guerra eletrônica voltou com força total.

É certo que a Rússia não é melhor para adaptar-se em todos os domínios. Quando se trata de novas formas de conduzir ataques de longo alcance, Kiev melhorou mais do que Moscou. A Ucrânia, por exemplo, desenvolveu a capacidade de realizar ataques adicionais de longo alcance contra aeródromos, fábricas de defesa e infra-estruturas energéticas russas durante o ano passado. Embora tenha sido em grande parte impotente para responder aos ataques russos contra a sua infra-estrutura civil durante o Inverno de 2022, tem agora uma capacidade sofisticada para responder na mesma moeda (embora com limitações impostas pelos Estados Unidos à utilização de armas ocidentais para atacar dentro da Rússia). Kiev utilizou esta capacidade ao atacar judiciosamente a Rússia, particularmente na sequência dos ataques massivos de Moscou à Ucrânia durante o Natal e o Ano Novo.

A Ucrânia também desenvolveu uma capacidade eficaz de ataque marítimo utilizando sensores militares e civis, mísseis de longo alcance e sucessivas gerações de drones marítimos não-tripulados. Esses drones marítimos agora são capazes de disparar mísseis, além de atingir alvos e detonar suas ogivas. Como resultado, a Ucrânia destruiu vários navios de guerra russos e criou um novo corredor marítimo de exportação no oeste do Mar Negro.

Mas estas vantagens podem não durar. Tal como aconteceu noutros domínios, a Rússia irá provavelmente adaptar-se a estes desenvolvimentos ucranianos. A Rússia, por exemplo, está alterando a composição e o agendamento dos seus ataques complexos e massivos com drones e mísseis para identificar fraquezas no sistema de defesa aérea da Ucrânia. E adaptou alguns dos seus mísseis de cruzeiro, como o Kh-101, para disparar sinalizadores como mecanismo de proteção contra ataques ucranianos.

Destruição criativa

O complexo militar russo desenvolveu um ciclo de adaptação melhorado e em constante melhoria que liga as lições do campo de batalha à indústria e às estratégias da Rússia. Isto poderá conferir aos russos uma vantagem militar significativa no próximo ano. Se não for abordada, poderá tornar-se uma vantagem para vencer a guerra. A Rússia poderá acabar com uma capacidade melhorada de atacar a partir do céu, sobrecarregando o sistema de defesa aérea ucraniano, ao qual são negados mísseis interceptadores suficientes, e tornando mais fácil para a Rússia avançar e aterrorizar os cidadãos ucranianos. Poderia, de forma relacionada, levar a mais ganhos russos no terreno, com Moscou tomando mais território no leste, em particular, mas possivelmente também no sul. A captura de Kiev é improvável no curto prazo. Mas, em última análise, Moscou procura mais mudar o cálculo político em Kiev para ser mais favorável à Rússia, em vez de tomá-la fisicamente.

Para evitar este destino, a Ucrânia deve construir a sua própria abordagem estratégica à aprendizagem e à adaptação – uma abordagem que possa complementar a sua notável história de adaptação ao combate. As unidades ucranianas podem começar por partilhar adaptações bem-sucedidas com outras unidades ucranianas num ritmo mais rápido. Embora as unidades ucranianas enviem frequentemente lições às brigadas, que depois as enviam para quartéis-generais superiores, os militares também devem enfatizar a partilha lateral. A troca de lições entre unidades não apenas reduz o tempo necessário para o aprendizado das tropas; também auxilia na padronização das táticas. Ainda assim, para criar um melhor sistema de aprendizagem lateral (e para padronizar as táticas), os comandantes superiores devem envolver-se. Os escalões mais elevados das forças armadas ucranianas terão de ordenar às tropas que troquem mais informações.

Para melhorar a adaptação estratégica, a Ucrânia deve também remover os obstáculos institucionais e de tempo que se interpõem entre a aprendizagem tática e a inovação e formação doutrinárias. Uma lição importante da contra-ofensiva ucraniana de 2023, por exemplo, é que a doutrina das armas combinadas que a OTAN ensinou às tropas ucranianas está desatualizada. Como resultado deste fracasso, os indivíduos e unidades ucranianos careciam da armadura intelectual necessária para conduzir operações ofensivas nas condições modernas. É imperativo que a OTAN e a Ucrânia acelerem a sua partilha de lições de combate e as liguem à doutrina e às instituições de formação, para que a aliança e Kiev possam rapidamente apresentar melhores doutrinas e melhores formas de treino. A OTAN deveria, em particular, utilizar a sua vasta capacidade analítica para ajudar os ucranianos a descobrir rapidamente o que funciona. Ao relacionar melhor as lições táticas com as mudanças estratégicas, o Ocidente poderá refazer a forma como esta guerra é travada de uma forma que torne muito mais fácil para a Ucrânia adaptar a sua estratégia de guerra global.

A Rússia detém atualmente a iniciativa estratégica.

O Ocidente também deve, naturalmente, continuar a armar a Ucrânia com armas avançadas. Mas embora o aumento das disposições globais ocidentais seja importante, é crucial que o Ocidente se concentre na produção e no envio de armas com maior probabilidade de proporcionar a Kiev uma vantagem estratégica. Deve, portanto, criar uma ligação mais forte entre a aprendizagem tática ucraniana e a produção industrial. As lições de combate devem passar rapidamente do campo de batalha para os fabricantes, tornando mais fácil para os soldados influenciarem a produção de equipamentos e munições. (A Ucrânia e os seus aliados deveriam, simultaneamente, tentar interferir na capacidade da Rússia de utilizar lições táticas para melhorar a produção de defesa, inclusive interferindo nas cadeias de suprimento de Moscou.)

Por último, a Ucrânia deve, em geral, aumentar a velocidade com que desdobra novas adaptações. Uma das principais fraquezas restantes das forças armadas russas é que são “uma estrutura que se torna melhor ao longo do tempo na gestão dos problemas que enfrenta imediatamente, mas também que luta para antecipar novas ameaças”, como afirmou um relatório recente do Royal United Services Institute. Esta é uma fenda significativa na armadura estratégica da Rússia. Significa que, embora a capacidade da Rússia para responder aos desafios tenha melhorado, ainda pode ser apanhada em desvantagem. Para capitalizar esta desvantagem, a Ucrânia deve introduzir e sistematizar rapidamente as suas novas adaptações, para poder infligir o máximo de danos possível antes que a Rússia aprenda como reagir.

Fazer essas melhorias não será fácil. Todas as instituições possuem capacidade limitada para absorver mudanças durante um curto período – o que o cientista político Michael Horowitz chama de “capacidade de adoção” – e os ucranianos já empreenderam uma enorme variedade de adaptações nesta guerra. Não ajuda que, para realmente funcionar, a adaptação precise ser multifacetada e abrangente. “A tecnologia emergente é vital para cada capacidade”, escreveu o historiador e analista militar T. X. Hammes num relatório de abril. “Mas, tal como o desenvolvimento da blitzkrieg ou da aviação de transporte, estas capacidades transformacionais só podem ser realizadas através da combinação eficaz de várias tecnologias e da sua implementação em conceitos operacionais coerentes e bem treinados.” Isso requer boa liderança, experimentação rápida e humildade para aprender com os próprios erros.

A Ucrânia não tem tempo a perder na implementação destas medidas. A Rússia melhorou significativamente a sua capacidade de aprendizagem e adaptação na Ucrânia. Quanto mais durar a guerra na Ucrânia, mais Moscou melhorará a sua adaptação estratégica. A justificação mais convincente para melhorar a adaptação estratégica da Ucrânia e impedir a da Rússia é garantir que a Ucrânia não perca a guerra. A Rússia detém atualmente a iniciativa estratégica – portanto, infelizmente, a derrota ainda é um resultado possível.


Sobre o autor:

Mick Ryan é estrategista militar, major-general aposentado do Exército Australiano e membro adjunto do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais.

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2024

Drone de combate XQ-67A da General Atomics finalmente é revelado

XQ-67A

O programa secreto Off-Board Sensing Station (OBSS) agora tem uma aeronave real e é provavelmente um vislumbre de muito mais por vir.

POR JAMIE HUNTER, JOSEPH TREVITHICK, TYLER ROGOWAY
ADAPTAÇÃO E TRADUÇÃO: CARLOS JUNIOR

A General Atomics Aeronautical Systems (GA-ASI) divulgou imagens de um novo drone de combate aéreo avançado, chamado XQ-67A. A empresa o construiu como parte de um contrato para apoiar o programa secreto Off-Board Sensing Station (OBSS) da Força Aérea dos EUA . Embora uma conexão explícita não tenha sido feita, houve indicações no passado de que este projeto aproveita o trabalho que a empresa está fazendo no Gambit, uma nova família de drones avançados que envolve diferentes fuselagens que podem ser acopladas a um chassi modular de “núcleo" comum.

As fotos do XQ-67A mostradas nesta matéria foram tiradas em local não revelado. A General Atomics, assim como Kratos , receberam pela primeira vez um contrato sob o programa OBSS em outubro de 2021. A Força Aérea posteriormente escolheu apenas a General Atomics para prosseguir com a construção e teste de voo de seu projeto.

“A General Atomics Aeronautical está muito entusiasmada em apresentar ao mundo o Off-Board Sensing Station (OBSS) XQ-67A pela primeira vez. Achamos que você está olhando para o futuro dos veículos aéreos de combate não tripulados”, disse C. Mark Brinkley, porta-voz da General Atomics. “Fala-se muito sobre UCAVs [Veículos Aéreos de Combate Não Tripulados] e o que o futuro pode reservar. Mas à medida que as pessoas aprendem mais sobre o XQ-67A OBSS e como o Laboratório de Pesquisa da Força Aérea e a General Atomics abordaram este projeto, descobrirão que é realmente diferente de tudo que já viram até agora.”

“Especificamente, o XQ-67A é um programa do AFRL [Laboratório de Pesquisa da Força Aérea dos EUA], e o GA-ASI foi selecionado para projetar, construir e pilotar essa nova aeronave”, acrescentou Brinkley. “Sem entrar em detalhes, posso dizer que estamos a avançar metodicamente nesse programa e a trabalhar em estreita colaboração com os nossos parceiros governamentais para atingir todos os objetivos do projeto e cumprir as nossas promessas. Estamos focados na velocidade de aceleração, processos de design acelerados e em trazer capacidade real para a o combate.”

As imagens que temos agora do XQ-67A, que carrega as marcações General Atomics e AFRL, mostram que ele possui trem de pouso triciclo retrátil, cauda em V amplamente aberta e asa principal com pouco enflechamento. Ele também possui uma entrada de motor dorsal montada na parte superior e uma linha furtiva que envolve a fuselagem. O design é amplamente semelhante em configuração básica ao Avenger da General Atomics , bem como ao avião-tanque MQ-25 Stingray da Boeing e ao XQ-58 Valkyrie de Kratos.

O XQ-67A possui um par de sondas de dados aéreos instaladas no nariz e marcas laranja de alta visibilidade em suas asas e cauda, ​​que são indicativas de uma aeronave destinada a testes de voo. As marcações gerais do XQ-67A são muito semelhantes àquelas aplicadas ao XQ-58As da Força Aérea , bem como os exemplares que agora são operados pelo Corpo de Fuzileiros Navais dos EUA.

Mesmo depois de mais de dois anos, os detalhes sobre o programa OBSS em si permanecem muito limitados. A partir das informações disponíveis, parece estar vinculado aos esforços para estender o alcance do sensor de aeronaves de combate tripuladas, com pelo menos um possível foco no papel ar-ar e na busca infravermelha. e sistemas de rastreamento (IRST).

A General Atomics vem demonstrando há anos capacidades usando seus drones furtivos Avenger que podem ser relevantes para o OBSS. Os Avenger voam regularmente com sensores IRST e trabalham em conjunto com outras plataformas reais e simuladas durante eventos de testes complexos. Alguns desses testes foram vinculados à autonomia e às operações de drones habilitadas artificialmente para cenários de combate ar-ar.

Os IRSTs são imunes ao bloqueio de radiofrequência e podem detectar alvos furtivos que os radares podem não conseguir “ver”. Isto está a tornar-se especialmente crítico à medida que aeronaves furtivas tripuladas e não tripuladas, bem como mísseis de cruzeiro, estão agora proliferando em todo o mundo.

Embora não saibamos ao certo se também estamos vendo o primeiro vislumbre do Gambit na forma da aeronave OBSS, o que sabemos é que a General Atomics construiu um XQ-67A pronto para voo, e é provável que em breve. estar envolvido em um importante cronograma de testes que levará o obscuro programa OBSS ao próximo estágio de realização.

quarta-feira, 31 de janeiro de 2024

MAIS UM NAVIO DE GUERRA EUROPEU VAI PARA O MAR VERMELHO

Dinamarca Envia Fragata Ao Mar Vermelho

A Dinamarca envia a fragata Iver Huitfeldt numa missão como parte da coligação marítima internacional dentro e ao redor do Mar Vermelho para fortalecer a segurança marítima. A fragata também deverá ser utilizada em uma futura missão naval liderada pela UE na área.

Comunicado de imprensa do Ministério da Defesa dinamarquês.

A fragata da Marinha Real Dinamarquesa Iver Huitfeldt partiu em 29 de janeiro de 2024 para Suez, de onde seguirá para o Mar Vermelho, quando a proposta de resolução do governo deverá ser aprovada no Folketing (Parlamento dinamarquês) em 6 de fevereiro. Huitfeldt fará parte da operação de segurança marítima liderada pelos EUA, Prosperity Guardian , que visa garantir o direito de navegação livre através do Mar Vermelho, do Estreito de Bab el-Mandab e do Golfo de Aden.

Em 10 de janeiro de 2024, a ONU aprovou uma resolução condenando os ataques dos Houthi a navios no Mar Vermelho. Os ataques dos Houthis ocorrem desde Novembro de 2023 e representam uma ameaça à paz e à segurança na região.

A Dinamarca participou em várias missões na área desde 2008. Com a Resolução B 103 (contribuição militar dinamarquesa para a operação liderada pelos americanos), o governo pediu ao Parlamento que aprovasse o envio de contribuições militares dinamarquesas para fortalecer a segurança marítima dentro e ao redor do Rio Vermelho. Mar. Com a resolução proposta, pode presumir-se que a contribuição militar dinamarquesa será utilizada na possível futura missão naval liderada pela UE na região.

O Iver Huitfeldt é capaz de repelir drones kamikaze Houthi e ataques de mísseis com mísseis antiaéreos SM-2MR Bloco IIIB com um alcance de cerca de 170 km e o míssil de médio alcance RIM-162B ESSM Bloco I SAM com um alcance de 55 km. O navio lança esses mísseis a partir de um sistema de lançamento vertical Mk 41 de 24 células.

O Iver Huitfeldt também contribuirá para a vigilância aérea e de superfície, utilizando os seus sensores avançados para detectar a imagem do mar e do ar. O navio está equipado com o radar Thales SMART-L, que opera em banda D, e o Thales APAR, que pode ser usado para busca aérea e de superfície e controle de fogo.

O Campo de Batalha 2040


Por Michel Goya, La Voie de l'Épee, 31 de janeiro de 2024.

Tradução Filipe do A. Monteiro, 31 de janeiro de 2024.

Algumas reflexões rápidas como introdução ao trabalho em grupo da Escola de Guerra Terrestre.

Não sei se é um reflexo de historiador ou simplesmente um reflexo de um velho soldado, mas quando me pedem para pensar no futuro penso imediatamente no passado. Quando alguém me pergunta como será o campo de batalha daqui a vinte anos, imediatamente me pergunto como víamos o combate de hoje há vinte anos.

Porém, logo no início dos anos 2000, nos quadros de powerpoint da EMAT ou do CDES/CDEF só se falava em “manobra vetorial” com muitos quadros descrevendo bolhas, setas, flashes elétricos e telas. O “combat infovalorisé”, desde satélites até super-soldados conectados ao FÉLIN, permitiria ver tudo, desde as próprias posições até aquelas do inimigo, e portanto atacar muito rapidamente com munições de precisão num combate necessariamente ágil, móvel e rotativo, feito de agrupamentos permanentes e afrouxados como em Perspectivas Táticas (Perspectives tactiques2000), do General Hubin, então muito bem sucedido. Pois bem, olhando atentamente para o que está acontecendo na Ucrânia ou anteriormente em Nagorno-Karabakh, encontramos alguns elementos desta visão, em particular com a ideia de um campo de batalha (relativamente) transparente. Por outro lado, estamos longe do combate rotativo e ainda mais longe dos soldados de infantaria do futuro ao estilo FÉLIN. Na verdade, se você fechar um pouco os olhos, ainda lembra os métodos e os principais equipamentos da Segunda Guerra Mundial.

Contrariamente à crença popular, os exércitos modernos não se preparam para a guerra do passado. “Estar atrasado para uma guerra” é um pensamento dos boomers que não tem sido relevante desde a década de 1950. De fato, até esta altura e desde a década de 1840, as mudanças militares foram muito rápidas e profundas, primeiro com um aumento considerável na potência, depois no deslocamento em todas as dimensões graças ao motor de combustão interna e, finalmente, nos meios de comunicação. Este ciclo prodigioso termina no final da Segunda Guerra Mundial para o combate terrestre, um pouco mais adiante para o combate aéreo e naval com o uso generalizado de mísseis. Desde então, fizemos sempre essencialmente a mesma coisa, simplesmente com meios mais modernos. Você teletransporta o General Ulysses Grant 80 anos depois para o lugar do General Patton liderando o 3º Exército dos EUA na Europa em 1944 e você se arrisca ter problemas. Você teletransporta o General Leclerc para o comando da 2ª Brigada Blindada hoje e ele rapidamente se sairá muito bem, o mesmo para os marechais Zhukov e Malinovsky se eles fossem trazidos de volta de 1945 para assumir o comando dos exércitos russo e ucraniano.

Na verdade, se o combate, móvel ou posicional, se assemelha ao da Segunda Guerra Mundial, todo o ambiente dos exércitos mudou. Durante a guerra, você poderia projetar um tanque de guerra como o Panther em menos de dois anos ou um avião de combate como o P-51 Mustang em três anos. Estes números devem agora ser multiplicados por pelo menos cinco, para um tempo de propriedade ainda maior, uma vez que os custos de aquisição também aumentaram proporcionalmente. Com a crise geral de financiamento militar das décadas de 1990-2010, a grande maioria dos exércitos permaneceu presa aos principais equipamentos da Guerra Fria. Se removermos os drones, a guerra na Ucrânia será travada com o equipamento concebido para combater na Alemanha na década de 1980 e isto ainda constitui a espinha dorsal da maioria dos exércitos. O Exército dos EUA ainda está totalmente equipado como nos anos Reagan, uma época em que Blade Runner ou De Volta para o Futuro 2 descrevem um mundo de andróides e carros voadores na década de 2020.

A inovação técnica, aquela que sempre monopoliza as mentes, só acontece muito lentamente nos grandes equipamentos, para os quais falamos agora de “geração” em referência à duração da sua gestação. Por outro lado, é realizado na periferia, com equipamentos de volume relativamente modesto – drones, mísseis – e na utilização de eletrônica, em particular para modernizar os principais equipamentos existentes.

Mas o que entendemos acima de tudo é que um exército não é simplesmente um parque técnico, mas também um conjunto de métodos, estruturas e formas de ver as coisas, ou a cultura, todas coisas intimamente ligadas. Isto significa que quando queremos realmente inovar nestes tempos, devemos primeiro pensar em algo diferente das áreas técnicas. A maior inovação militar francesa em trinta anos não é o Rafale F4 ou o SICS, é a profissionalização completa das forças. O que precisamos pensar é como ter mais soldados, através de reservas, mercenarismo ou qualquer outra coisa, para produzir equipamentos de forma diferente, mais rápida e mais barata, para adaptar de forma mais eficaz o que temos, para construir estoques, etc.

De forma mais ampla, devemos acima de tudo antecipar que o futuro campo de batalha talvez esteja em conformidade com o que esperamos, mas que não será, sem dúvida, onde o esperamos e contra quem o esperamos. O risco não é mais preparar-se para a guerra anterior, mas preparar-se para a guerra próxima, concentrar-se como os americanos da década de 1950 no absurdo campo de batalha atômico com armas nucleares táticas, até antes de se engajarem no Vietnã, onde farão algo muito diferente. Cinquenta anos depois, as mesmas pessoas fantasiam sobre as reais perspectivas de uma guerra de alta tecnologia baseada em informação, numa paisagem transparente, antes de sofrerem nas ruas iraquianas ou nas montanhas afegãs, enfrentando guerrilheiros equipados com armas ligeiras da década de 1960, dispositivos explosivos improvisados ​​e ataques suicidas. Existe a guerra com a qual sonhamos e a guerra que travamos.

O principal problema é, portanto, que temos de desenvolver os nossos exércitos equipados com o mesmo equipamento pesado durante quarenta a sessenta anos em contextos estratégicos que mudam muito mais rapidamente. Se recuarmos duzentos anos até ao início da Revolução Industrial, veremos que o ambiente estratégico em que as forças armadas francesas estão envolvidas muda, por vezes de forma bastante repentina, durante períodos que variam entre dez e trinta anos. Um general estará envolvido em contextos políticos, e um exército destina-se a envolver-se em política, quase sempre diferente daquilo que ele terá experimentado como tenente.

Em 13 de julho de 1990, o Chefe do Estado-Maior do Exército, General Foray, veio ver os guardas-bandeiras que iriam desfilar no dia seguinte na Champs Élysées. A discussão centra-se no nosso modelo de exército, que segundo ele é capaz de lidar com todas as situações: dissuasão nuclear através da energia nuclear, defesa firme das nossas fronteiras e da Alemanha com a nossa força de batalha e pequenas operações externas com as nossas forças profissionais. Três semanas mais tarde, o Iraque invadiu o Kuwait e rapidamente nos disseram que devíamos preparar-nos para travar uma guerra contra o Iraque. O problema então não é o que vamos fazer no campo de batalha, mas se seremos capazes de mobilizar forças suficientes, uma vez que o acontecimento ultrapassa completamente o quadro doutrinário, organizacional e mesmo psicológico em que estivemos imersos desde o início da década de 1960.

O mundo muda a partir deste momento, assim como todo o cenário operacional com o desaparecimento da União Soviética. O esforço de defesa está entrando em colapso, especialmente na Europa, e já estamos lutando para financiar o equipamento que encomendamos para enfrentar os soviéticos que desapareceram para pensar em pagar pelos que vieram depois. Passamos o nosso tempo entre campanhas aéreas para punir Estados pária, gestão de crises e, a partir de 2008, lutar contra organizações armadas, coisas que ninguém previu na década de 1980.

Há dez anos que estamos envolvidos numa nova guerra fria e enquanto a luta contra as organizações jihadistas não termina, porque sim - nova dificuldade - quase sempre nos encontramos divididos entre várias missões que não são necessariamente compatíveis. É provável que esta fase dure mais quinze ou vinte anos, antes que um conjunto de fatores atualmente mal compreendidos acabe por causar convulsões políticas. Podemos, portanto, prever que em 2040 teremos aproximadamente o mesmo modelo de exércitos, com mais alguns robôs e conexões de todos os tipos e, esperamos, um pouco mais de massa projetável, mas que não temos a menor ideia de contra quem iremos lutar, como e a quantidade de meios necessários, sabendo que será muito difícil improvisar e adaptar-se neste momento.